22/01/2025
Jalapão: pureza natural
É mais que uma viagem: é uma expedição que desconecta o viajante da tecnologia e o conecta a paisagens de beleza única, escancarada em chapadões, fervedouros de águas cristalinas e dunas cor de fogo.

No Jalapão e nas Serras Gerais não existe nada que seja pouco ou mais ou menos. As quedas d’água dos cânions têm 80 metros de altura, os lagos são de um azul intenso, o sol nascente – ou poente – é hipnotizante, as dunas são deslumbrantes, o laranja das montanhas é cor de fogo...
Aqui, até as distâncias são enormes. Nada leva menos de duas horas de percurso, então, para aproveitar mesmo o Jalapão, você vai ter que acordar antes do sol e só voltar quando ele se for.
Encravado no estado do Tocantins, o Jalapão é formado por diversas áreas de conservação, incluindo o seu gigante parque estadual, com quase 35 mil km². Para chegar, é preciso voar para Palmas, capital do Tocantins. Há muita coisa para se ver no Jalapão, e as distâncias são longas.
Como a região é enorme, o ideal é fazer um roteiro circular, dormindo em lugares diferentes e explorando, a cada dia, os atrativos no entorno.
De maio a outubro é a época de seca, melhor período para conhecer a região com dias claros e ensolarados, que rendem fotos escandalosas.
De novembro em diante, há risco de chuvas rápidas, que podem afetar os passeios e deixar a água dos fervedouros turva. A temperatura média na região é de 26°C, passando de 30°C no verão. Não esquecer repelente de longa duração, assim como protetor solar e bonés, que são essenciais.
Dizem que não tem nascente ou poente como o do Cerrado. Assim, o despertar madrugador, às 4h da manhã, para ver o sol despontar do alto da Serra da Catedral é parte da experiência de ir ao Jalapão.
São 365 degraus morro acima, numa trilha de meia hora. Do alto, o visual do Cerrado se perde no horizonte, com sua vegetação rasteira e as serras pontuando o céu.
A Serra da Catedral fica dentro do Jalapão Ecolodge, um glamping em que você “acampa” com conforto e sustentabilidade, dentro de uma propriedade com mais de mil hectares. É uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, o que garante a preservação ambiental.
O quarto é uma cabana sem janelas, voltada para a mata e construída com os princípios da bioarquitetura, com reúso de resíduos.
Do alvorecer, seguimos para o boia-cross em um trecho do Rio Soninho, também localizado na propriedade da pousada.
O trajeto completo é de três quilômetros, descendo em boias pela água limpíssima, de cor avermelhada e cercada de mata densa. As corredeiras são bem gostosas e divertidas, nada radicais. Garantia de diversão para a família toda.
Uma hora e meia de estrada depois, chegamos ao primeiro fervedouro, o Por Enquanto. Aqui, vale explicar o que é um fervedouro: trata-se de nascentes que formam “pequenos lagos”: a fama, super merecida, é por causa da cor da água, azul cristalina, e também porque é impossível afundar nela.
O fenômeno ocorre porque a água que ressurge da terra empurra a gente para cima. Cada fervedouro é de um jeito, um menor, outro maior, mas são todos lindos e sempre cercados de buritis, bananeiras e palmeiras em geral.
Almoçamos lá mesmo, uma comida caseira e deliciosa, e seguimos para os fervedouros Veredas e Alecrim. Neles, temos a mesma experiência sossegada. Ao fim do dia, rumamos para a nossa segunda base, a Pousada Bela Vista, que possui um fervedouro belíssimo, de uso exclusivo para os hóspedes entre 20h e 7h30.
A NATUREZA QUE REGE A VIDA
A Cachoeira do Formiga é a próxima parada. Uma pequena queda d’água, mas com um lago que, visto de cima, tem cor de esmeralda e, de baixo, é cristalino como vidro. Mais uma vez, chegamos lá sem ninguém e ficamos por duas horas.
Dali, seguimos para o fervedouro Buritizinho. Ele é bem pequeno, mas é o mais azul de todos, e é impressionante a transparência das suas águas.
Por tudo isso, é também dos mais famosos, e o tempo lá é contado no relógio: 15 minutos. Dá para conciliar com o fervedouro Buriti, também um dos mais populares, por ter formato de coração. Depois dali, o destino é a cidade de Mateiros.
BOM DIA, TODO DIA
O sol nem nasceu e partimos rumo à Serrado Espírito Santo, para mais um alvorecer. Depois de meia hora de estrada, chega-se à base da montanha.
São 295 metros de altura e 700 metros de “escalaminhada” rumo ao topo, numa trilha bem estruturada, que tem até bancos para descansar pelo caminho. O céu é um dos mais estrelados que já vi, prenúncio de um alvorecer que ficaria marcado com o mesmo fator de ineditismo.
O sol surge por trás das outras serras, que desenham o horizonte com pinceladas de laranja, rosa, vermelho e amarelo, revelando, à nossa frente, as escarpas verdes e o Cerrado a perder de vista lá embaixo, enquanto a sinfonia do vento e dos pássaros toma conta do espaço. É emocionante.
Descemos e tomamos o café no Bar da Bita, na entrada das Dunas do Jalapão. Parece cenário de filme brasileiro. Uma tapera de pau a pique, decorada com dezenas de camisas de rali e times de futebol, fincada no meio do nada; ao fundo, o cacarejo das galinhas.
O próximo atrativo, então, são elas, as Dunas do Jalapão. Imensas, silenciosas, protegidas pelo parque e cercadas pelos buritis, por um rio e, ao fundo, a serra. Parte das dunas é formada pela erosão da serra e trazida até aqui pelo vento.
Como o dia no Jalapão é longo, das dunas a dica é seguir para a comunidade quilombola do Rio Novo, para um banho de rio e um almoço típico: peixe local, feijão e mandioca colhidos no Cerrado, e sorvete de frutas típicas.
Fechamos o dia no Cânion Sussuapara. Lá, paredões de rocha, úmidos e cobertos por samambaias e musgo, formam um pequeno cânion. A água desce pela fenda e forma um riacho ao longo do trajeto, que termina numa piscininha gelada. É impressionante como um só destino pode ter tantas paisagens diferentes.
TUDO EM SINTONIA
O final da viagem é marcado pela ida à Pedra Furada, um dos cartões-postais do Jalapão, e segue para um dos lugares mais lindos do Brasil: a Lagoa do Japonês. Chegamos depois do almoço e ficamos lá – mais uma vez, só nós – até o anoitecer.
A primeira visão é de um lago lindo, esmeralda, e cercado de mata nativa. E, à medida que a gente nada para o fim do lago, a paisagem fica ainda mais surreal. Imensos paredões, por onde descem cipós igualmente gigantescos, começam a surgir de um lado e de outro, para, no final de tudo, formarem uma espécie de caverna gigantesca.
E, a cada braçada em direção a essa caverna, a água vai ficando mais azul e mais cristalina, até parecer um vitral turquesa. E, quando o sol começa a cair, tudo muda de cor. A água do lago, um espelho antes azul, agora se pinta de laranja e rosa. É completamente surreal.
O Jalapão tem isso: a cada lugar que você chega, acha que é o mais lindo de todos. Com o Cânion Encantado e a Cachoeira do Elias não poderia ser diferente. Para começar, uma trilha de um quilômetro, plana, mas debaixo do sol, até chegar à entrada do cânion. E aí a magia começa.
O caminho atravessa o cânion, cor de fogo, e cada trecho vai mudando de paisagem: pelo meio da mata, depois passando por um rio.
De repente, a fenda se abre num círculo, e estamos rodeados por paredões de até 80 metros de altura. Deles despencam não uma – o que já seria escandaloso –, mas quatro quedas d’água. Uma delas ainda forma uma piscina.
O passeio segue por uma curta trilha entre esses paredões, com água caindo por todos os lados, e pedras de tamanho colossal, cobertas de musgos fluorescentes, até chegar a um funil, por onde descia a mais potente das cachoeiras, retumbando poderosa e alta entre as pedras.
Por fim, fechamos essa viagem vendo o pôr-do-sol da Pedra do Arco do Sol, para seguirmos, com o coração cheio, para o aeroporto, de volta para casa. Com a certeza de que viagens são mesmo transformadoras.
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