18/09/2024

Quartos Montessorianos

Conheça o estilo de decoração que estimula a autonomia e a criatividade das crianças desde os primeiros anos de vida

Quartos Montessorianos

Por Heloísa Cestari

Um quarto infantil pensado sob a perspectiva da própria criança. Esse é o conceito do estilo montessoriano, que traz para a decoração a metodologia de ensino criada pela médica italiana Maria Montessori. Por volta de 1907, ela desenvolveu um estudo no qual constatou que crianças colocadas em ambientes com mais opções de estímulos se desenvolviam melhor. Hoje, professores, pedagogos e até mesmo designers de interiores usam seu método como referência. A ideia é promover a autoeducação, permitindo que os pequenos tenham liberdade com segurança para desenvolver autonomia, autoconfiança e senso de responsabilidade desde os primeiros passos.

Para tanto, não basta reproduzir móveis de adultos em menor escala. É preciso criar um ambiente que seja, de fato, funcional, acolhedor e interessante, que atenda às necessidades específicas do período da infância e favoreça os aprendizados dessa fase. “A criança precisa se sentir à vontade para interagir com o quarto e explorar o espaço de forma independente”, explica a arquiteta Silvia Aguiar.

Por isso, mesas de desenho, guarda-roupas, nichos, cômodas e outros móveis devem estar sempre na altura dos olhos dos pequenos. Camas infantis convencionais são substituídas por colchões no chão ou camas baixas, a fim de que até mesmo bebês tenham a liberdade de deitar e levantar quando quiserem. Pufes, tapetes e almofadas completam a sensação de conforto sem sair do chão.

O mesmo vale para os objetos menores que irão decorar o quarto. Além de lúdicos, coloridos e interativos, para despertar o interesse e a criatividade, esses itens devem ser dispostos no ambiente de maneira que fiquem sempre ao alcance da criança, para que ela possa usar e organizar livremente suas roupas e brinquedos. “Toda criança é muito imaginativa, e o quarto montessoriano dá a acessibilidade que ela precisa para criar o seu próprio universo”, diz Silvia.

Alguns recursos que estimulam o brincar são livros em prateleiras baixas, cestos de brinquedos, cabaninhas, cozinhas em miniatura, objetos com formatos inusitados, estampas bem-humoradas, paredes de lousa e tapetes interativos. “A Mimo Toys, por exemplo, tem tapetes de amarelinha, de labirinto, com ruas para carrinhos e vários outros temas lúdicos.”

Para que a décor não gere monotonia com o passar do tempo, a pedagoga Cristina Freitas, especialista no Método Montessori, recomenda que os brinquedos sejam ofertados à criança em esquema de rodízio, sendo alternados a cada duas semanas. O mesmo pode ser feito com as roupas e fantasias. Neste caso, o ideal é armazenar poucas opções em uma arara ou armário baixo para que os pequenos visualizem e escolham o que vão vestir com mais facilidade.

Detalhes como esses criam uma atmosfera aconchegante, fazendo com que a criança sinta-se acolhida dentro de casa. “Além disso, ambientes lúdicos promovem a criatividade e a curiosidade, fatores determinantes para a formação de pessoas mais sensíveis e empáticas”, completa Cristina.

CUIDADOS

Segurança e circulação são outros itens primordiais na hora de adaptar um quarto infantil à filosofia montessoriana. Para começar, a disposição de móveis e objetos deve ser pensada de forma que não haja obstáculos ao brincar. A arquiteta Silvia Aguiar garante: por menor que seja o quarto, é sempre possível desenvolver um layout com espaço para a criança circular.

Como toda liberdade implica em riscos, também é fundamental estar atento a pequenos detalhes que fazem toda diferença quando o assunto é segurança, como a espessura e a estabilidade de cada item do quarto. Para que a criança não esbarre ou bata a cabeça na quina de um móvel, por exemplo, vale investir em nichos, prateleiras e armários que fiquem embutidos nas paredes ou que tenham cantos arredondados.

Móveis instáveis, que podem tombar, devem ser evitados. Também convém adquirir protetores de tomada, barras de apoio para bebês, cadeiras leves e baixas, luminárias com sensor, telas de proteção nas janelas, evitar cabos expostos e dar preferência a pisos antiderrapantes e tapetes finos para a criança não tropeçar facilmente.

Espelhos e quadros de materiais leves são sempre bem-vindos para que os pequenos reconheçam a própria imagem e instiguem seus sentidos, mas evite pregos para fixá-los à parede e cole o espelho em uma placa de MDF ou madeira – assim, caso ele quebre, os pedaços não se soltarão, podendo machucar a criança.

Normalmente, os quartos montessorianos são desenvolvidos para crianças de até 6 anos, pois é nesta fase da vida que elas começam a criar independência nas pequenas tarefas do dia a dia, como caminhar, brincar, vestir-se e organizar seus pertences. No entanto, vale adaptar o conceito às demais fases da infância para que o quarto continue sendo sempre um refúgio acolhedor e propício ao aprendizado.